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DA SEGUNDA VINDA DE CRISTO
Gênesis 3

 

Todos os anos, na celebração do o Natal, costumamos ler, na Palavra de Deus, os relatos dos Evangelhos de Lucas e Mateus, especialmente, porque são os livros que nos falam mais plenamente sobre o nascimento de Jesus, isto é, a vinda do Senhor JEHOVAH ao mundo. Mas a vinda do Senhor ao mundo está em toda a Bíblia; foi predita e descrita desde os tempos antiqüíssimos, como lemos nesta profecia em Gênesis 3:15.

"E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre tua semente e a semente dela; Ele te pisará a cabeça, e tu Lhe ferirás o calcanhar".

No sentido interno, essas palavras tratam do combate que o Senhor iria mover contra os infernos, quando viesse ao mundo. A "serpente" significa o mal em geral e o amor de si em particular, mal que o Senhor viria combater. A "mulher" representa a Igreja. A "semente da serpente" significa a falsidade que procede do mal; a "semente da mulher" significa a fé no Senhor. O Senhor é quem pisaria na cabeça da serpente, isto é, abateria o domínio do mal, mas a maldade humana iria causar dor e sofrimento ao Humano do Senhor, o natural ínfimo, representado pelo calcanhar, quando Ele aqui viesse. Então, em resumo, essa profecia, falando desse combate, significam: "Porei inimizade entre ti, (o mal e o amor de si em particular) e a Igreja; entre a fé no Senhor e a infidelidade; o Senhor mesmo abaterá o domínio do mal e o mal atacará o ínfimo natural do Senhor".

Essas palavras são, portanto, a primeira profecia que encontramos na Bíblia sobre a vinda do Senhor ao mundo (AC 250). Foram proferidas no tempo em que a Igreja Antiqüíssima começou a se degenerar, retrocedendo de seu estado celeste e puro. Logo que aquela Igreja começou a cair, o Senhor prometeu que viria ao mundo para resgatar a raça humana, e falou previamente da luta que Ele teria para fazer essa obra. A palavra profética era, já, a Sua presença em potencial no mundo. Desta maneira, a vinda do Senhor começou logo após a queda mesma da Igreja Antiqüíssima, ainda que a completa manifestação de Sua vinda, o Seu aparecimento no plano natural, nascendo como uma criança, só se tenha efetivado no tempo do fim da Igreja judaica.

Enquanto vivemos no mundo natural, estamos envoltos pelas aparências dos sentidos. Todos os pensamentos de nossa imaginação são materiais, por estarem limitadas por duas circunstâncias: o tempo e o espaço, que foram inseridos por Deus no momento da criação. São essas duas coisas que delimitam e finitizam tudo o que é criado. Podemos experimentar, e nunca iremos conseguir, nesta vida, imaginar qualquer idéia que não esteja de algum modo restrita pelo tempo e o espaço ou que não dependa destes.

É por causa dessa limitação que nos habituamos a pensar na vinda do Senhor ao mundo como um evento único, acontecido naquela noite de natal, há uns dois mil anos. A idéia do Natal nos traz a lembrança somente aquele determinado tempo (uma noite) e aquele determinado lugar (as cercanias de Belém, o campo onde estavam os pastores, o estábulo onde se abrigaram e a manjedoura onde foi colocado o menino). Todavia, essa idéia por si só é material, e restringe muito nossa compreensão acerca do que realmente foi o Advento do Senhor. Se pensarmos que Ele só veio ao mundo naquela determinada ocasião, da noite de natal, e aqui viveu por 33 anos e, depois, subiu aos céus, estaremos deixando de perceber vários outros aspectos que a Sua vinda envolve.

Em primeiro lugar, devemos sempre nos lembrar de que, da parte de Deus, não existe tempo nem espaço. Assim, sem essas duas limitações, Ele não poderia ter ficado esperando, num determinado lugar, no céu, por numa determinada hora, para poder vir ao mundo na noite de Natal. Isto seria limitá-lo, fazê-lo finito pelo tempo. Pela lógica, sendo Ele Infinito e Onipresente, a Vinda dEle ao mundo não pode ter sido retardada por nenhum fator material, nem por nenhum condição humana ou material. É na mais perfeita coerência com essa lógica que os Escritos dizem que a Vinda do Senhor e a Sua presença no mundo teve início lá no tempo descrito em Gênesis 3. Não era, é certo, uma presença física, num corpo material, mas era a presença como a Divina Verdade, por meio das profecias da Palavra, pela qual Ele está presente. Portanto, Ele veio (ou começou a Sua vinda) imediatamente após a queda do homem, como se descreve em Gênesis 3.

A presença do Senhor não se restringe à Sua manifestação material. De fato, quando aqui nasceu, Ele Se fez mais plenamente presente, mas, antes de estar presente com a raça humana no corpo material, Ele estava presente pela Divina Verdade que procede dEle, através das verdades da palavra que eram lidas e ensinadas, e estava presente como o Divino Bem através dos sentimentos bons e humanos que os mesmos ensinamentos da Palavra despertavam nos corações.

Há, e havia, então, uma presença mais interior de Deus, mais espiritual e menos material, como a Divina Verdade ou o Espírito da Verdade, e houve a Sua presença física, no Humano Natural de carne e ossos. Foi na presença por meio da Divina Verdade que Ele esteve nas Igrejas do passado. E quando essa presença não era mais suficiente para sustentar a fé, Ele então quis Se aproximar ainda mais do homem, quis se manifestar, e, entrando no tempo e no espaço, revestiu-Se de um corpo material, no ventre de Maria.

Quando o Senhor fez isso, Ele mostrou o Seu imenso amor por nós. O Infinito e Eterno Se limitou no tempo e no espaço. A Alma Se fez presente, envolvendo-Se num Corpo para Se fazer visível até aos olhos materiais. É esta ação da Alma (chamada Pai) e do Corpo (Filho) que está descrita em João 3:16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".

A Alma Divina, que é suprema, enviou Seu corpo natural, como um Pai envia o Filho. Se o Senhor não fizesse isso, toda a fé nEle pereceria, assim como pereceria até mesmo o bem natural nos corações humanos. Com efeito, a raça humana, nesta terra, havia chegado a um estado tão externo, tão material e tão grosseiro para perceber as coisas espirituais, que foi necessário que Deus descesse até esse nível, corporal, a fim de não abandonar o homem.

Compreendendo esse gesto de sacrifício e amor por nós, de Ele mesmo baixar os céus e descer até nossa condição, foi que João escreveu: "Deus era a Palavra, e a Palavra Se fez carne, e habitou entre nós".

No passado, ainda no tempo da queda, o fim da Igreja Antiqüíssima, a presença dEle, na Palavra, nessa promessa e em outras, era mais ou menos vaga, como aqui, quando se fala da Semente da mulher, combatendo o mal e o dominando. Ainda que fosse uma profecia obscura, era bastante para manter, no começo, a fé daquele povo num Deus que está próximo ao homem.

Mais tarde, nas Igrejas Antiga e Judaica, as profecias de Sua vinda foram sendo dadas de forma cada vez mais claras, mais próximas da compreensão natural dos homens daqueles tempos. Isto veio até ao ponto em que, na época de Miquéias, Ele disse até em que cidade haveria de nascer neste mundo: "E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade" (Miq. 5:2).

Mas, muitas vezes, ainda que esteja diante da face, ainda que brilhe com clareza diante dos olhos, a verdade não é vista, quando o homem não quer vê-la. Chegou, então, o tempo em que nem mesmo uma profecia clara como essa de Miquéias despertava nas mentes das pessoas qualquer esperança, qualquer fé, qualquer preparação para o Senhor. Foi nesse tempo, quase do fim, que Ele nasceu e Se fez carne.

Depois de viver aqui aproximadamente 33 anos, fazer a obra de redenção, subiu aos céus, de onde veio. Mas, novamente aqui, Ele subiu e foi, sem sair daqui, pois Ele mesmo disse: "Eis que Eu estarei convosco todos os dias...."

Neste sentido, irmãos, a fim de compreender o que foi o Advento do Senhor, devemos imaginar como um processo completo que, para nós, iniciou no tempo antiqüíssimo, logo que começou a queda da Igreja. Era como o pai que se curva para amparar um filho logo que o vê caindo ao chão. Assim, o Senhor não se quedou inativo, esperando a Igreja cair e se degenerar cada vez mais. Ao contrário, veio imediatamente, e sempre esteve presente na Sua Igreja e no mundo, seja por meio da Palavra, seja em Carne, seja agora em espírito.

O Ser Infinito transcende o tempo e o espaço. Ele estava e esteve com Sua Igreja em todos os tempos. Por isso, Ele continua presente conosco, mesmo que, quanto ao Corpo, tenha-Se elevado aos céus. Ele nasceu neste mundo exatamente para estar sempre ao nosso lado. Sua presença agora é ainda mais plena, porque pode estar tanto nas regiões mais interiores de nosso ser quanto no nível material de nossos pensamentos e sentimentos, compreendendo nossas lutas, sofrendo com nossas dores e amparando-nos nos abatimentos.

Afinal, Sua vinda e presença ao mundo foi para lutar em nosso favor. "Porei inimizade entre ti (o mal em geral e o amor de si em particular) e a Igreja, e entre a fé no Senhor e a infidelidade; o Senhor mesmo abaterá o domínio do mal e o mal atacará o ínfimo natural do Senhor.

Lembremo-nos que a vinda do Senhor não foi um acontecimento perdido no tempo, mas uma aproximação maior de Seu Divino Amor e Verdade. O Natal foi apenas o dia em que essa aproximação chegou ao nível último, material, do tempo e do espaço.

E, quando voltou aos céus, Ele reteve consigo esse Humano, feito de carne e ossos, Natural, que foi tomado no tempo e no espaço, e por esse Humano, que agora brilha como Sol dos céus, Ele pode estar plenamente presente conosco, em todos os nossos estados.

Sejamos, então, perseverantes nas nossas lutas. Creiamos que o Senhor está sempre e sempre esteve do nosso lado, fazendo-nos resistentes aos ataques infernais , do mal em geral e do amor de si em particular. Se formos fiéis nessa fé e constantes em nosso amor, o Senhor abaterá por nós toda dominação do mal. Amém.

Lições: Gênesis 3; AC 250

AC 250 Vers. 15: Ninguém hoje ignora que esta é a primeira profecia do Advento do Senhor ao mundo; isto se vê claramente, até pelas próprias palavras. Por aí e também pelos Profetas os judeus sabem que o Messias deve vir. Mas ninguém soube ainda o que se entende em particular pela serpente, pela mulher, pela semente da serpente, pela semente da mulher, pela cabeça da serpente que Ele pisará e pelo calcanhar que a serpente ferirá. Por isso, essas coisas devem ser expostas. Pela "serpente" se entende aqui todo mal em geral e o amor de si em particular; pela "mulher" se entende a Igreja; pela "semente de serpente", toda infidelidade; pela "semente de mulher" a fé no Senhor; por "Ele", o Senhor Mesmo; pela "cabeça de serpente" o domínio do mal em geral e do amor de si em particular; por "pisar", o abatimento para que ande sobre o ventre e coma pó; pelo "calcanhar", o ínfimo natural, como o corpóreo, que a serpente "ferirá".

C. R. Nobre

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